O dia em que eu não passei

Imagem: Pinterest


Sempre ouvi dizer que pro curso de Direito ter valor, você precisa passar no exame de ordem. Eu não quis tentar antes, por saber que não estava preparada.

Concluí o curso, apresentei meu TCC com louvor e ignorei por algum tempo o fato de que faltava o trivial. Eu estava satisfeita, trabalhando pouco e ganhando pouco também. No dia 14 de fevereiro recebi uma ligação desesperada da minha mãe, implorando pra que eu estudasse.

Minha mãe teve uma história sofrida, assim como a maioria dos brasileiros de classe baixa. Entendi que ela não queria que eu tivesse um caminho difícil como o dela foi e ainda é. Maior que a minha vontade de “ser alguém na vida”, era a minha vontade de proporcionar a ela, uma realidade diferente.

Eu comprei um caderno – o primeiro em cinco anos de faculdade – também comprei algumas canetas e marca texto. A principio estabeleci um horário e comecei a ver vídeo aulas de um cursinho preparatório, ali, sozinha mesmo.

Estudar não é fácil pra ninguém, pra uma pessoa ansiosa e inquieta como eu, tornou-se ainda mais difícil. Com esse período, aprendi a ter disciplina, horário e principalmente a usar uma camiseta e um short durante quase a semana toda. Eu entrei em um universo paralelo, esqueci minha vaidade, minha vida social e até mesmo de mim. Cheguei em casa várias vezes e chorei.

Não sei se eu chorava de desespero, medo ou qualquer outra coisa. Mas eu sabia que estava vivendo um momento difícil. Eu sempre entendi o curso de direito e admirei os advogados. Ocorre que, quando a minha ficha caiu, que eu fiz faculdade durante cinco anos e no final eu não tinha valor, me bateu uma tristeza muito grande.

O mercado de trabalho já é uma coisa cruel.  Pros bacharéis então, nem se fala! Às vezes, podemos ter a mesma competência de um advogado com a carteira da OAB, mas por não possuí-la, passamos a não ter valor algum. Somos menosprezados.

Eu tinha certeza que estava preparada. Não tinha nada anotado em meu caderno, que eu não soubesse. Fui confiante pra prova decisiva da minha vida, o dia mais importante e especial. Comecei a contar as questões, indo muito bem no começo, despencando ao meio e ressurgindo ao final. Eu não passei.

Acho que uma dor maior do que a que eu senti naquele momento, seria só se eu perdesse alguém. Eu chorei ao ponto de despencar nos braços da minha mãe. Lembro que desfaleci. Pior do que a minha tristeza, foi ver a decepção estampada no rosto da minha família. Ninguém conseguiu disfarçar o quanto eles queriam que o resultado fosse diferente.

No final das contas, minha vida nunca mais foi a mesma depois desse domingo. Isso, as pessoas não me contaram e ninguém anunciou nos jornais. “O dia em que eu não passei na OAB”, foi um dia que eu parei de sonhar. Isso não quer dizer que eu desisti. Teve outro dia desses que eu também não passei e eu aprendi a lidar com a dor.

Entendi que há dores maiores. Não sei qual será o dia em que eu mudarei esse título. Hoje, parece uma realidade distante. Mas acredito que daqui há algum tempo, terei coragem de enfrentar essa história novamente.



Há sempre uma outra chance.

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