Fora de casa



Praticamente todos os adolescentes sonham em sair de casa, principalmente naquela fase de rebeldia. Quando sua liberdade é monitorada por seus pais e suas ações são motivos de debates em casa. Todo mundo viveu ou vai viver isso um dia. Aquela fase em que você não concorda com seus pais e eles também não concordam com você e o relacionamento fica complicado.

Por mais liberais que seus pais sejam, vão sempre haver questões, independente da sua idade, em que vocês não vão entrar em consenso. Os amigos nesse momento, tem uma forte influência porque você começa a comparar até onde vão as limitações deles, de acordo com as suas. Chega um dia, que você arruma uma desculpa pra sair de casa.

No meu caso, foi realmente necessário. A cidade que eu nasci e moro atualmente, não dispunha de muitas oportunidades de estudo. Aos dezesseis anos, saí de casa. Fui morar em Brasília, a convite da irmã mais nova da minha mãe. Eu fui pra concluir o ensino médio por lá e dar continuidade aos meus estudos.

A realidade de morar longe dos seus pais, é completamente diferente daquela que você idealiza. Acredite, morar com parentes é muito pior. Aprendi a pegar ônibus, entrei em uma escola que eu não conhecia absolutamente ninguém e que o sistema educacional difere muito do que é aplicado aqui em Minas. Não tive dificuldades em fazer amizades. Tenho contato com muitos desses amigos e tenho um enorme carinho por essas lembranças. Mas vivíamos em um mundo particular. Matávamos aula pra tocar violão nos blocos em frente a escola, pra ir aos clubes de Brasília, pra conhecer os pontos turísticos e ficar jogando conversa fora.

A consequência dessa vida sem regras, foi a reprovação no terceiro ano por faltas e minha triste volta pro interior. Graças a Deus, todos nós tomamos juízo e pelas redes sociais eu tenho visto que todos estão obtendo sucesso em suas carreiras.

Após concluir o ensino médio dignamente, fiz uma segunda tentativa de sair de casa pra morar com uma amiga em uma cidade mais próxima. Era a realização de um sonho. Um apartamento só nosso e uma vida de cursinho pré vestibular. A parte de morar com ela, foi realmente como planejamos. Infelizmente não aproveitei mais porque eu namorava à distância nessa época. Mas ninguém me contou a pressão que é estudar pro vestibular. Eu estudava a noite e durante o dia tentava estudar e encontrar um sentido pra minha vida.

Eram dois ônibus pra ir e dois pra voltar, sendo que, na volta eu chegava muito tarde e eram momentos de terror até entrar no portão do prédio. Fiz um amigo no cursinho e ele me ofereceu carona pra voltar porque ele morava próximo a minha casa e a mãe dele o buscava. Obviamente eu aceitei e foi um alívio. Certo dia, a mãe do meu amigo disse que nos esperaria em um bar próximo ao colégio. No meio do caminho, fomos assaltados. Coisas de cidade grande. Roubaram nossos celulares e estavam armados. Como bons estudantes, não tínhamos dinheiro na carteira e isso deixou os assaltantes mais revoltados ainda. Foi meu primeiro celular roubado, o segundo foi dentro do ônibus, indo pro cursinho. Chegar em casa e não ter o colo da minha mãe era a pior parte.

A lição que eu tenho é que não compensa sair de casa desacompanhado da sua maturidade e responsabilidade. Hoje em dia, acredito que seria tudo diferente. Apesar de tudo, eu tinha pavor de voltar pra casa dos meus pais. Na minha cabeça, era um retrocesso. Eu ficava imaginando que as pessoas iriam me ver como uma fracassada, principalmente porque meu pai me deu um ano de cursinho até passar na faculdade federal e eu não consegui.

Minha mãe fez minha inscrição no vestibular da minha cidade eu fiz a prova contra minha vontade. Fiz de tudo pra não passar. A não ser pela redação. Eu não resisti em ver aquela folha cheia de linhas prontas pra eu disseminar meu conhecimento sobre o tema. E graças a redação, fui bem colocada no curso de direito.

As oportunidades que tenho aqui, eu acredito que não teria em outro lugar. Aqui as portas se abriram pra mim e as chances apareceram. É muito bom proteger e me sentir protegida pela minha família.

Hoje, eu vejo que não poderia ser diferente. Os amigos que conheci já fez valer muito a pena. Eu conheci lugares novos, novas culturas e novas ideias. Essa é a bagagem que mais vale a pena carregar.

Viver fora de casa me fez ver o quanto é bom estar aqui.


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